sábado, 19 de setembro de 2009

Da beleza de se fazer o que gosta...

Hoje acordei na madrugada, a ansiedade da mudança.. de casa, de tudo, mandou lembrança lá pelas cinco da manhã...
Vim para o computador, fechei a porta para não acordar ela...ensilhei um mate... e fui andar pelo Youtube.
Estava no momento "gitano".. passeei entre guitarras e violinos... e então me lembrei de um filme, há muito visto o DVD...
O filme em sí não tem nada com o que mais me tocou.
É uma história dos EUA dos anos 50.. um Americano, filho de Judeus, perde a esposa e fica sozinho com a filha pequena...
Woopy Goldberg aparece e a vida muda..
O filme chama-se "Corina, Corina", a trilha tem esta mesma música, nome da personagem de Woopy..
O que mais me marcou no filme é um cena, curta, de 30 segundos.
Esta cena me transmite a beleza de se trabalhar com o que se gosta.
É poética, tocante, uma imagem que me toca profundamente.
Eis ali uma pessoa que amava seu trabalho...
Vamos situar a imagem.
O filho chega para  pai, já bem velhinho e surdo... Bem humorado, mas demonstrando claramente que seus dias chegaram ao fim..
Ele foi violinista, e pelo sotaque da mãe, pois ele não fala, devem ter passado poucas e boas na vida... não fica claro se são sobreviventes de  algum campo de concentração, ou já estavam nos EUA antes da Shoah...
O filho coloca a mão no ombro do pai e pede:
"De-me um dó!"
A imagem que se segue é de indescritível prazer para o pai.. e para mim.
Vá ao link, e veja o que é um homem que ama o seu trabalho.
São apenas 30 segundos..


http://www.youtube.com/watch?v=KKhCv-0S1yo&feature=PlayList&p=5CFF7F05DEDEF5E3&index=10&playnext=11&playnext_from=PL#t=178
Tenho a sorte de amar o meu trabalho... de fazer o que gosto...
Consigo entender aquele soriso!
Vamos dormir, pois ainda tem tralha para levar para a casa nova...
Verei a primavera chegar, sentado na minha varanda, com uma cuia cheia de mate amargo!

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

E morreu a Mary

O grupo Peter, Paul and Mary foi um importante trio nos 60 e 70, junto à musica folclórica norte americana.
Sempre tive o gosto por este tipo de música, e quanto mais ouço e mais conheço sobre este movimento, mais me surpreendo com bandas da época.
Conheci inicialmente Dylan, Joan Baez, Creedence, the Byrds e Lynyrd Skynyrd.. na era LP..
Peter, Paul and Mary foi mais tarde, já na era youtube...
Suas interpretações de letras de Bob Dylan e Pete Seeger são fantásticas e profundamente tocantes.
Eles tocaram inclusive no 4 de julho de 1971, na marcha pela paz..
http://www.youtube.com/watch?v=q8U6Oh9uSY8

Mary faleceu nesta quarta feira, 16/09/09, aos 72 anos, de leucemia.. Sua voz ainda impressionava nas apresentações de 2004.. as mais recentes que encontrei no Youtube..
São as minhas preferidas:
Blowing in the wind,
http://www.youtube.com/watch?v=3t4g_1VoGw4&feature=related

If I had a Hammer,
The Great Mandala,

Puff - The Magic Dragon,
http://www.youtube.com/watch?v=Wik2uc69WbU&feature=related

Leaving in a Jet Plane,
http://www.youtube.com/watch?v=HIshbtQ6LqA&NR=1

Where have all the flowers gone?
http://www.youtube.com/watch?v=pYii6nxhvUk&feature=related

Sempre pensei que "One Tin Soldier" fosse deles, ou houvesse alguma interpretação deles... mas me enganei.. The Original Castle cantava na época... http://www.youtube.com/watch?v=J7jHp7OchP0
Há uma versão no Youtube, em desenho animado acompanhando a letra, http://www.youtube.com/watch?v=cTBx-hHf4BE&feature=related

Estas músicas, suas interpretações e letras dão uma boa idéia de como havia um sentimento de necessidade de mudança.. e que propiciaram realmente uma mudança..
Foram pessoas e pensamentos daquela época, representados em letras como a de Pete Seeger de "If I Had a Hammer", escrita em 1949 e que virou símbolo pelos direitos civis, e "Where have the flowers gone?", creio que de 1956 com sua letra maravilhosa que embalaram os sentimentos e levaram ao fim da segregação racial nos EUA, e uma reação à cultura militarista nascida no pós II Guerra.
Pode ser ainda os ataques de "polyannismo" que eventualmente tenho, já que ainda vivemos os reflexos da era guerreira do Bush,... mas, pessoas como estas, se não garantiram um mundo melhor, refrearam a sanha por fazê-lo pior!

Rest In Peace Mary, and send our best wish to Our Lord!!

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O tiro no pé.

As opiniões aqui são de um mero usuário.. Ou seja, não fiz cálculos nem business plan.. eu só sou o cara que usa o serviço..

Sou do tempo que se tomava whisky em avião. Algumas vezes desci em Congonhas, Guarulhos, Brasília ou Florianópolis, meio balão. Resultado da diferença de pressão e do álcool.

Mas estes são tempos passados. Afundadas em má gestão empresas acabaram, e o que resta da VARIG hoje, é um nada de seu passado.

Lá pelo início dos 2000 começaram a desaparecer as garrafas de Whisky, Campari, e o meu querido “Blood Mary” parou de ser feito, com a seca da Vodka.

Até aí, tudo bem. Alguns não sabem beber.. Outros não sabem parar... Hoje, muito eventualmente encontramos cerveja em um vôo mais longo, digamos BSB para RJO..

Mas com o tempo desapareceu o lanche, antes trazido em maletinhas plásticas, que faziam a alegria dos filhos mais pequenos. Hoje se resume a barras de cereal e eventualmente um sanduiche.

OK, Avião é prá voar... Telefone é para falar...

Não, não é... Telefone é prá falar, bater foto, entrar no Twitter, etc..

O avião, antes uma experiência semelhante a um “one day SPA” , passou a ser algo semelhante a um ônibus. É interessante que já se fala de “viajar em pé”, usando uns poleiros... Coisa que nem a Transbrasil fez (é bom lembrar que ela nasceu de uma divisão da Sadia, e alguns a acusavam de “ainda transportar carne”).

Aparentemente o avião perdeu este glamour, e somado ao geral mau serviço prestado pelas empresas, controlado por uma estatal e fiscalizado por um poleiro político, o ato de viajar de avião pode eventualmente ser comparável às antigas filas do INPS.

Aqui temos uma coisa interessante: Durante a crise que ainda vivemos, o mercado de luxo cresceu 8% no Brasil. Onde foi que o avião, e o ato de voar, deixaram de ser luxo?

Como reconquistar este “luxo”, sem abrir mão da escala que se formou do plano Real para cá?

Isto, a meu ver, é um trabalho “à dois”. Empresa aérea e aeroportos.

É fato que a estabilidade da moeda permitiu a queda dos preços, e com isto o aumento da escala. Isto é ótimo, pois mais gente, inclusive as de classes menos favorecidas, passaram a usar o avião como meio de transporte. Portanto a aviação, em especial a nacional, deixa de ser um produto de luxo, para ser um produto de escala. Mas mesmo entre produtos de massa, ocorrem os “premiuns”.

Compare um Big Mc a um Big Apple. São ambos hambúrgueres, mas a diferença está além do preço de um ou de outro. Ela está no ambiente, no atendimento.

Primeiro há que se definir o que seria “luxo” neste mercado. Creio que ele se resumiria hoje a bom atendimento e a atendimento diferenciado.

Não sei se a existência de uns poucos acentos da “primeira classe” em vôos de pouco mais de uma hora se justifiquem. Mas as salas VIPs, para clientes “premiun” podem muito bem substituí-las

Com o crescimento da insegurança, uma sala vip, com atendimento básico diluído na tarifa do vôo, e um atendimento extra cobrado podem trazer receitas e satisfazer clientes.

Hoje o que se considera básico é:

· Um local que se possa abrir o laptop, ou seja, uma boa mesa e uma boa cadeira.

· Um sanitário limpo, com possibilidade de um sanitário infantil. Eu sou pai separado.. de uma menina. Alguém aí sabe como fazer quando ela quer ir ao banheiro, tem medo, e você não pode entrar pois só tem banheiro Feminino e masculino?

· Uma rede WiFi.

· Água! Refrigerantes e café “espresso” podem ser opcionais, cobrados ou não. Um bar, montado pode ser uma fonte de renda extra. Mas água é fundamental.

· Avisos na sala dos vôos, seus atrasos e suas mudanças.

· Deslocamento. Nem sempre vale a pena se deslocar de taxi. Ônibus, saindo de pontos como Shopping Centers podem inclusive agilizar os serviços de check-in, o cliente embarcado já pode ter algumas coisas básicas feitas, tais como validação de documentos para que usa web check-in, ou o check-in mesmo. Com a banda larga móvel, uma atendente com um smarphone resolveria muito, e já enviaria para a as filas apenas quem tem mala para despachar. Notem que nem falei em pesar as malas previamente no “ponto do Shopping”. Fica para “um plus a mais”.

· Atendimento doce. Ok, aeromoças (hoje chamadas de comissárias de bordo) passaram a fazer parte das fantasias sexuais. Isto as revolta, mas não justifica que o atendimento não seja “doce”. Ou seja, agradável. Hoje o atendimento é policialesco, afinal o passageiro pode estar escondendo um celular ligado. Tá faltando o básico, a educação. Dos funcionários da empresa aos do aeroporto.

· Estacionamentos com acessibilidade, facilidade de movimentação, pois mesmo que o cliente não chegue de cadeira de rodas, ele chega com uma mala com rodas.

o Alguém é usuário do Viracopos aí??

· Embarque e desembarque de taxis. Lamentavelmente o taxi em aeroporto é uma máfia, protegida pela administração dos mesmos. Esquecem-se, todavia que as empresas fazem contratos com cooperativas, e o uso de “vouchers” é normal. Por que é que eu tenho de descer no Santos Dumont e ir para debaixo do relógio, sob sol ou chuva, para pegar o taxi da cooperativa que me atende? Ou ir para a área de embarque do Galeão para pegar meu taxi?

o É necessária uma área, segura, para que se possa esperar o taxi de cooperativa. Operacionalizar isto é fácil, eu sei o número e a empresa do taxi que vai me buscar, passada estas informações, só aquele taxi irá me buscar.

o O diabo aqui é que discutem se a área do taxi é municipal, estadual ou federal... A área do taxi é do cliente que está usando o raio do aeroporto, e por sinal, paga para isto.

Quem sabe se com isto uma viagem aérea não volta a ter um certo “glamour”... Sempre lembrando que o “glamour” é bom para os negócios...

Mas o propósito de escrever este post foi o de comentar o “case” negativo da GOL.

Esta semana iniciaram o piloto da cobrança do lanche a bordo.

O relatado no Jornal, no meu caso a “Folha de São Paulo”, é uma triste sucessão de erros por parte da empresa. Erros repetidos.

Avisaram o no check-in, se é que avisaram direito, que o lanche seria cobrado. Em vôo, algumas pessoas não concordaram, ou nem sabiam que este lanche seria cobrado.

Primeira impressão do Cliente, “Mesquinharia”.

Segunda impressão do Cliente, “Desorganização”.

Na hora de servir, alimentos e dinheiro manipulados pela mesma pessoa.

Terceira impressão do Cliente, “Porcos”.

Ao reclamar, o Cliente passa a ser ameaçado. O Comandante, “vítima de um surto de General da Banda”, ameaça descer o avião em outro aeroporto e chamar a Polícia Federal para prender uma senhora (médica) que queria passar um abaixo assinado.

Quarta impressão do Cliente, “Nazistas”.

Vejamos então a situação: Em um vôo de pouco mais de uma hora a Empresa conseguiu uma propaganda negativa que além dos óbvios efeitos, pode acabar com um bom negócio futuro.

A empresa alega que fez pesquisas, e que os passageiros aprovaram a idéia de cobrar o lanche.

Alega ser iniciativa inédita no Brasil, inédita e mal planejada.

Acho que eles deveriam antes bater um papo com quem entende “do riscado”, e planejar melhor o operacional da cobrança e distribuição.

Deveriam deixar claro no ato da compra da passagem, e não no momento de check-in.

Deveriam dar opções, pois quem foi despreparado, e contando com o lanchinho, ficou com fome até destino.

Deveriam treinar os comissários a serem comissários, e não “amigo de um policial que eu vou chamar para te bater”. Não sei se vocês sabem, mas a carreira do Wilson Simonal foi pro brejo por uma confusão destas. Tenha ele feito, ou não feito, o que foi falado.

Não sei bem o porquê, mas me lembrei da história da Coca-Cola “mais doce”.

No fim dos anos noventa a Coca-Cola fez uma pesquisa com seus consumidores e “descobriu” que eles aprovariam uma Coca-Cola “mais doce”.

Na hora que foi para o mercado, deu um forró-bodó tão grande que restou a pergunta:

Que raio de pesquisa de mercado vocês fizeram?

Pessoalmente acho que se faz muita pesquisa de mercado para “dar” o que o diretor quer. Algo semelhante aos planos qüinqüenais da era Stalinista. Se torciam e distorciam os dados para o “Grande Líder”, mas “o mujique continuava a passar fome” .

O mujique hoje somos nós, os Clientes... Que apesar de eu fazer questão de escrever com o C maiúsculo, continua sendo destratado e desprezado.

E a turma que faz isto está entre os melhores “estudados”.

Como dizia o meu avô:

”Alguns estudam para Burro, meu neto...”

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Para os Gerentes.. não se esquecerem

http://www.youtube.com/watch?v=CABsgXUyClE&NR=1&feature=fvwp

Pré-Sal-Brás

E vamos nós lá de novo...

Fazia tempo que não me lembrava daquela piada de “inferno brasileiro”.. Um dia faltava balde... Outro, excrementos...

Estamos acostumados com uma eficiência não vista nos tempos de Estatal. E é bom registrar aqui que trabalhei na “Viúva Telebrás”, e conheci um pouco como eram feitas as lingüiças.

A comparação não é tola, se não tivéssemos privatizado, estaria eu ainda esperando meu Trabant.. digo, celular.

Não vejo no mundo, tirando a Noruega, um país que tenha sido abençoado com o petróleo... Obviamente somos um país e uma sociedade mais complexa que a Venezuela, Equador ou Bolívia, para citar os três países próximos, mergulhados em ditaduras, dissimuladas ou não..

Não me esqueço das aulas de História, os ciclos da economia nacional, baseados em extrativismo. Não entendam que acho que corramos o risco de virar um simples exportador de petróleo, que depois do ciclo do gado e da cana teremos o ciclo do petróleo...

Pelo contrário, haverá um grande impulso para a indústria nacional, incluindo aí parcerias internacionais.

Mas parte da maldição do ouro negro já começou.

Estão criando mais um poleiro para afilhados políticos. Mais um cabide de emprego para correligionários. Maço de cenouras a ser abanado para trocas de apoios.

Mais munição para a nossa política, tocada por sanguessugas.

O modelo de Estatal já foi mais que demonstrado que não é eficiente, ao menos pensando do ponto de vista econômico, social e empresarial... Obviamente que do ponto de vista do “negativo-franciscano” o famoso “É dando que se recebe” a eficiência é próxima de um moto-contínuo.

Já temos uma Empresa, a Petrobrás. Já temos de limpar ela dos cabides políticos, dos afilhados nas diretorias... Da canalha que se apropriou de postos em detrimento de elementos técnicos, de carreira, competentes.

Lembrem-se do Severino, dizendo que “eu quero aquela que fura poço”...

Agora ele deve querer aquela que fura sal.

O teatro armado ontem, claramente com fins eleitoreiros, conta com o ovo na cloaca da galinha.

Há muita esperança no ar, e ela que só não serve para sogra, acaba nos cegando.

Quem garante que o petróleo estará aos 100/150 Dólares o barril daqui a 10 ou 15 anos?

Parafraseando o príncipe Árabe, Ahmed Zaki Yamani, “a idade da pedra não terminou por conta da falta de pedras”.

As novas tecnologias, mais limpas e economicamente cada vez mais viáveis estão aí. De carro a ar comprimido (http://www.guynegre.net/) até as células de combustível, carros a hidrogênio, conceitos de matriz energética mista.. Células foto-voltaicas mais leves, mais eficientes e mais baratas. O fato é que cada vez mais formas alternativas de geração de energia, e conseqüentemente de movimento, estão aí.

Cada vez mais baratas e dissociadas de regimes totalitários.

Ok, o Evo está sentado em cima de uma imensa reserva de lítio, mas não creio que seja a única do planeta.

Nunca se deixará de se precisar de petróleo, ele não gera apenas gasolina, mas seu uso vai perder o “carro chefe”... Será que com uma baixa demanda ainda será economicamente viável extrair de “onde o homem jamais esteve”?

Resumindo meus medos: Mais uma Estatal, mastodôntica.. Mais cabide de emprego.. Mais demora nos processos, e um mundo mudando por aí.

Os tempos estão mais curtos. Se a “Pré-Sal-Brás” bobear, quando chegar o petróleo, não teremos o que fazer com ele. E o molho vai sair mais caro que o peixe.

Fico aqui, com meu “Espírito de corvo”, a crocitar..

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Ética, Sustentabilidade, Uma boa aula III

Como disse, Toynbee é um vitoriano. Há que se dar um desconto em certas coisas, em especial na sua visão sobre assuntos sexuais... Mas não posso discordar de todo dele.
Interessante que outro dia, sentei e abri uma revista História Viva especificamente a Grandes Temas N 25 "Entre o Céu e o Inferno".
Na sua última página há um artigo de Reuven Faingold, “Noé, o “Homem Justo”.
Encontrei, neste artigo, o seguinte parágrafo:
“Os Homens dos dias de Noé se agrediam mutuamente, pois “encheu-se a Terra de violência”(Gen 6.11b). E, como se não bastasse a perversidade, a corrupção e a violência, aquela geração era também marcada pela incredulidade, pois não deu ouvidos à pregação de Noé, o “mensageiro da Justiça””
Toynbee me parece bem “bíblico” agora, um “apocalipicista”. Nada mais natural para um vitoriano.
Nossa Era Pós Moderna, que convenhamos, sob o ponto de vista de comportamento ainda não acabou, perdeu a certeza Iluminista e Positivista, e não encontrou nada ainda que tomasse o seu lugar. Perdemos nossas utopias, ou como o poeta dizia, “meus heróis morreram de overdose”.
Nossas crianças, criadas sem limites, agridem professores. Se sexualizam muito cedo, tem acesso a imagens que arrepiariam nossos pais, discutem sexo e relacionamento sem estarem entendendo exatamente o que é isto. E nós, os pais, achamos tudo isto muito normal. Eventualmente lembramos ao professor que pagamos a escola, e talvez aquela agressão tenha sido merecida.
Este ambiente, corrupto e permissivo (um depende do outro) somou-se a Era da Informação. A Era da Informação mostra o ambiente corrupto e permissivo, nos fazendo criticá-lo.
Duas forças:
· Uma negativa: A Informação correndo rápida vai levar facilidade na especulação, na entrada e posterior saída (realização de lucros, ou pânico) de recursos financeiros. Isto desaguou no empacotamento de “créditos podres” e sua distribuição pelo mundo nos fundos de derivativos, levou a atual crise econômica mundial. O cruzamento da Era Pós Moderna com a Era da Informação.
· Uma positiva: A Informação está aí, é facilmente distribuída.
- A China proíbe tudo, filtra tudo, controla tudo, mas as informações escapam, e as boçalidades do regime aparecem nos Blogs, nos e-mails.
- O Irã se revolta com a reeleição de Ahmadinejad, que expulsa observadores externos, mas é “traído” pelos filmes feitos em celulares e enviados como MMS, que mostram os conflitos, pelas mensagens via twitter (que atrasou uma manutenção para ficar no ar e dar este canal aos opositores).
- O RNA do virus H1N1 é decodificado nos EUA, graças a um misto de bioquimica e informática, e seu conteúdo disseminado aos centros de pesquisa mundial via internet. Uma mutação, identificada no Brasil é distribuída ao mundo, semans depois. Quase tão rápido quanto a disseminação dele mesmo.
- O Sarney diz que “o problema é do Senado”, e todos nós nos enojamos de imediato.
- O Greenpeace faz um estudo sobre desmatamento e pecuária, a informação roda o mundo, e o rebu tá feito. Quem sabe se agora os pecuaristas deixam de ser burros e passam a acreditar que a “Aceitação Cultural” é verdadeira.
A difusão da informação causa a indignação imediata, o excesso da informação “embucha o vivente”.
A era da informação muda a forma de trabalhar, o lugar de trabalhar e a hora de trabalhar. Agora não distinguimos mais o que é trabalho e o que não é. Lemos os sites de notícias nos ambientes de trabalho, entre uma página e outra de um relatório, na distância de um alt-tab. Atendemos um chefe, um cliente, um subordinado, durante nosso jantar romântico. Usamos o twitter para emitir nossa impressão sobre o prato do restaurante, enquanto ela vai ao toilette.
A informação vicia, e ela passa a “ser de todos”. Afinal de contas, ela está lá no 4shared, onde encontrei um pdf com um resumo das obras de Toynbee, e se bobear encontro o livro.
A era da informação acaba com a escravidão do artista, e pune as gravadoras. A facilidade de copiar e distribuir, a que as gravadoras chamam de pirataria, acaba com o que elas chamam de empregos... e outros de percentuais draconianos.
A mesma pirataria populariza o Windows, o Office, praticamente os fazendo padrão de mercado.
Algo típico da nossa Era da Informação.
Como não há uma barreira física, a virtual praticamente não se enxerga. Não temos mais fronteiras, como uma operadora de celular apregoa.

O novo trabalhador.
Chamado também de trabalhador do conhecimento. Este ser, diferente de seu Pai, sabe que não vai durar muito naquela função, naquele trabalho. Aliás, durante certo tempo, diga-se antes dos 40, ele apregoa aos 4 ventos que ele nem quer mesmo ficar “fazendo a mesma coisa”.
É interessante notar que a era industrial se forma em bases hierárquicas rígidas, vindas das atividades militares. São eles os melhores administradores desta época.
Pelas características de tempo e de forma de produção, é fundamental a imposição de “ordem” para haver “progresso”.
É importante notar que naquela época, logística era uma ciência/atividade essencialmente militar.
Mesmo entre, ou talvez mais ainda, nos países anglo-saxões onde o positivismo não colou muito, são em pensamentos embasados em idéias militares que as empresas são formadas.
Certa vez me lembro de ouvir de um Sargento que o soldado deveria ter mais medo dele do que do cavalo que ele tinha de montar.
É interessante observar como uma das indústrias mais “prazerosas” foi montada em bases da hierarquia militar. Observe como funciona um restaurante de “bom nível”.
A estrutura de “Chef”, “Sous-chef” e por aí vai, foi criada por Georges Auguste Escoffier, em cima das bases de Antoine Carême.
Escoffier foi militar, e lutou na Guerra Prussiana como “Chief” do exército Francês.

Como é preciso entender o Homem, em seu meio, creio que esta visão militarizada, que hoje encaramos com certo preconceito, foi a ideal e necessária para a época.

Mas hoje o soldado já não monta mais cavalos, e sim produtos de alta tecnologia. Há um novo soldado, uma nova mentalidade se formando nos Exércitos, e o novo trabalhador também é diferente.

Peter Drucker, papa da administração, definiu as competências do novo trabalhador, o trabalhador do conhecimento.
1) Competência: transforma informação em conhecimento.
2) Expertise: conhecimento do produto e do mercado. Sabe do que fala!
3) Empreendedorismo: encara os problemas com oportunidades, busca oportunidades, mesmo que seja como empregado.
4) Ética.
5) Liderança: Direção, foco no resultado, visão.
6) Paixão pelo trabalho.
7) Comunicação.
8) Trabalho em equipe. Fundamental, pois a quantidade de informação e conhecimentos não é mais gerenciada por apenas um “Leonardo Da Vince”.
9) Flexibilidade: O mundo VAI mudar, portanto há que se adaptar às novas realidades.
10) Criatividade: Cria algo novo
11) Inovação: Melhora o que já existe.
12) Humildade: habilidade de considerar os interesses dos outros, antes dos seus.
Se a estrutura de produção e conseqüentemente das empresas da era industrial nos alienava, e criava um ambiente esquizofrênico de “vida no trabalho” e “vida fora do trabalho”, a sociedade da informação chacoalha tudo isto e mistura.
Eu insiro um post no Twitter sobre meu café, mas acesso um link de um “paper sobre Long Term Evolution” deixado por meu amigo Eduardo segundos antes.
Enquanto a exigência anterior era de “cumpra o que te dei prá fazer”, alienando o trabalhador, a exigência agora é “Paixão pelo Trabalho”, envolvendo o novo trabalhador por inteiro.
Obviamente isto cria conflitos, pois nem a sociedade anterior morreu, nem a nova já está madura. Alguém pode me questionar se não estou “roubando” a empresa ao acessar o Twitter em meu horário de trabalho. Outros questionam a invasão da empresa na “minha casa”, pois o celular está lá, e tocará caso seja necessário.
O tempo levará isto a uma acomodação.
Creio que dos doze tópicos de Drucker, o principal, e que a tudo resume, é a “paixão pelo trabalho”!
Pois tendo esta paixão, o novo trabalhador é um incansável perseguidor da excelência, um talento auto-gerenciável e em auto e contínuo desenvolvimento.
A nova empresa
Esta ainda está em desenvolvimento, pois a nossa “era da informação” ainda está nascendo.
Segundo Lawrence Kohlberg, existem estágios da progressão da moralidade. E podemos ver neles os estágios de desenvolvimento da cultura organizacional de uma empresa.
O primeiro estágio é o pré-moral e se subdivide-se em duas fases, em ordem evolutiva:
1) Darwinismo social (baseado no EU, na minha sobrevivência)
2) Maquiavelismo (NÓS, manipulação para a sobrevivência. Não mata, mas...)
O segundo estágio é o Moral, que também tem dentro de si dois degraus em ordem evolutiva:
3) Conformidade (cria normas para impedir a desonestidade)
4) Lealdade para com a autoridade (alinhamento aos pensamentos do líder)
O terceiro estágio é o pós-moral, ou Ético, também com dois degraus:
5) Participação Democrática (tolerância para com a diversidade, cultura ética)
6) Integridade baseada nos princípios (justiça e direitos individuais)
Há alguns anos trabalhei com uma pessoa a quem admiro muito até hoje. Ele é religioso, externa isto, mas não impõe esta sua visão.
E por ter esta posição religiosa, inclusive diversa da minha posição que mais se assemelha a uma “angustiante dúvida”, seu comportamento baseado nos princípios básicos da ética levou à formação de uma equipe muito boa, e me propiciou uma das fases mais produtivas de minha carreira.
Isto me lembra que quando “eu” sou o líder, eu arrasto a minha organização para o degrau que eu estiver.

Foi uma boa e instigante Aula!
Fico agradecido por ela!

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Ética, Sustentabilidade, Uma boa aula II

OK, o post de ontem parece ter sido bem otimista, Né?
Mas não foi de todo.
Vamos rever os pontos da sustentabilidade:
1) Viabilidade Financeira;
2) Socialmente Justa;
3) Aceitação Cultural;
4) Ambientalmente Responsável;
A viabilidade financeira pode ser obtida utilizando o comportamento ambientalmente responsável. Vejamos o caso dos créditos de carbono, já citado.
Com investimentos, muitas vezes usando soluções internas e de relativa simplicidade, algumas empresas estão diminuindo suas emissões de carbono. Com isto elas podem vender estes créditos para as poluidoras.
Isto significa caixa para as empresas que poluem menos, e conseqüentemente, incentivos a buscar menores emissões, via pesquisa. Isto pode significar também um ganho adicional por se apresentar como uma empresa socialmente e ambientalmente responsável.
Pragmaticamente:
Posso fazer papel de bonzinho e faturar em cima disto.
Posso fazer caixa, vendendo meus créditos
É um negócio, ao menos com tempo determinado!
Pode parecer uma carta branca para as poluidoras, mas temos duas pressões aqui:
1) Os valores de compra de carbono acabam se tornando um OPEX que em médio prazo pode se tornar pesado e inviabilizar o negócio, obrigando a fechá-lo ou adaptá-lo com soluções que emitam menos carbono. Por exemplo, aquelas desenvolvidas nas empresas que investiram nisto e ganharam com a venda dos créditos de carbono.
2) Existem volumes máximos de créditos de carbono que podem ser comprados por um país, o que leva a seu governo buscar forçar a diminuição das emissões por outros meios, desde financiamentos a soluções, até coerção finaceira.
Aqui você irá dizer:
“Ok, Guido... mas confiar que os governos vão cumprir as suas metas de emissão de carbono? Os EUA nem ratificaram o Protocolo de Kioto!!”
Bom, realmente o Bush não o ratificou, mas uma série de municípios, Estados e mesmo industrias americanas começaram a fazer investimentos voluntários para a diminuição das emissões. O que corrobora um pouco do meu ataque de “pollyanismo” de ontem. Aparentemente o mundo não é feito apenas por canalhas, e nem todos os capitalistas não querem ver que é necessário mudar...
E então veio o Obama, nossa esperança num mundo melhor, e recentemente impôs o que alguns chamariam de metas impossíveis para emissão de gases em carros. O “Cara” fixou para 2016 uma meta de 15 Km/litro.
Óbvio que aí tem o interesse de se livrar da dependência do petróleo do Oriente Médio, e do atoleiro político que aquilo significa.
É obvio também que com uma meta agressiva, ele busque inviabilizar os motores a explosão, ao menos nos carros maiores, evoluindo para elétricos/ células de hidrogênio.
E com isto se sai da “idade da pedra”, não porque elas acabaram...

Uma linha do tempo:
Nossa visão histórica é que estejamos na terceira globalização.
A primeira foi a “Pax Romana”, alcançada com o domínio do Mediterrâneo, inicia-se com Cesar Augusto em 29 AC e termina com Marco Aurélio em 180 DC. Com o domínio militar, e a engenharia, estradas cruzaram o “mundo”, que era tudo aquilo dentro dos “limes”. Estradas foram construídas, e com isto floresceu o comércio. A segurança e a possibilidade de usar os meios de transportes em cima de estradas estáveis foi o que possibilitou esta primeira Globalização.
A segunda foi a “Pax Britannica”, de 1815 (Trafalgar) até 1914 (Primeira Guerra Mundial). Neste período, a evolução dos meios de transporte, com o motor a vapor de 1780 faz com que a velocidade facilite o comercio, bem como as imigrações. Irlandeses, por conta da grande fome migram para os EUA, os italianos, por motivo não diferente vêm para “Fare l’America”. Chineses aportam no oeste Americano e finalizam a ligação leste-oeste da grande ferrovia Americana (Norte Americana). A imigração era fácil, nem passaportes existiam [Friedman, Thomas L. – o Lexus e a Oliveira]. É essencialmente a Era da industrialização.
A terceira se inicia com a queda do Muro, em 1989, e o desenvolvimento das telecomunicações, junto com a micro- informática, Internet (1969, mas popularizada nos anos 90) . Esta Globalização é caracterizada por conter duas Eras, a “Era Pós Moderna” e também a “Era da Informação”. É interessante notar que esta Era nasceu com nome... diferente das anteriores, que foram nomeadas por historiadores... Na Pós Modernidade até a História é rápida... Aliás, na Pós Modernidade, disseram que a história morreu.
Dizem que a Era Pós Moderna termina em 11/09/2001. Nós precisamos de datas para nos orientar, mas acho forçado dizer que foi com o 11 de setembro... Se ela acabou mesmo, acho melhor considerar a data da eleição do Obama, pois nada mais pós moderno que a Era Bush. E nada mais messiânico que Obama.
E quais as características desta época Pós Moderna?
· Hedonismo
· Consumismo
· Individualismo
· Quebra dos ideais Iluministas e Racionalistas.
É interessante que , Sir Arnold Toynbee, um escritor nascido no fim do período vitoriano, em seu Estudo sobre História compara as civilizações e nota um mesmo padrão de comportamentos em seus momentos finais... Algo muito próximo dos comportamentos da nossa Pós-modernidade.
· Sensação de Abandono
· Fatalismo Cínico
· Desaparece o Idealismo
· Sem crenças na moralidade
· Escapismo
· Distração e entretenimento.
· Abandono Moral e pessimismo
· Promiscuidade, não só sexual, mas como uma aceitação indiscriminada de tudo

domingo, 7 de junho de 2009

Ética, Sustentabilidade, Uma boa aula

Este post está aqui por duplo interesse, expor as minhas idéias, como sempre... E revisar a matéria da aula de Ética Comercial, magistralmente ministrada pela “Pro” Paulette Albéris Alves de Melo. Reconheço que descaradamente segui a sua aula para escrevê-lo.
Como ela mesma disse: “Nada escrito aqui é meu, são os “Best Sellers” que estão falando....” Obviamente posso concordar ou não... Eu concordo! Ao menos neste “espaço/tempo”.
Mão à obra...
O que é Ética?
Ela é um conjunto de fundamentos universais, é uma reflexão crítica sobre a moral.
E a Moral?
Moral é o conjunto de costumes aceitos num determinado tempo e espaço.
A Ética tem seus pilares, se preocupa com princípios universais, que são:
Dignidade Humana;
Respeito à vida
Respeito à Justiça;
Essencialmente a Ética nos faz perguntar:
Isto faz bem ou faz mal??
Mudanças:
Está se processando no mundo empresarial uma mudança que envolve a reavaliação dos pressupostos básicos da sociedade ocidental:
· Desenvolvimento;
· Negócios;
· Democracia.
Isto decorre da degradação ambiental que vem sendo denunciada desde os anos 60, bem como ao aumento do crime, terrorismo, fome crônica e consumo de drogas. Coisa que vieram na esteira da forma de pensar a economia e o desenvolvimento.
Desde os anos 60, diversos movimentos vêem se contrapondo a esta situação, questionando direitos civis, ambientais, etc...
Após Martim Luther King, Gandhi, os movimentos de libertação feminina, as lutas do Greenpeace, o envolvimento de Jacques-Yves Cousteau, não há espaço nas sociedades ocidentais para retrocessos.
Desde minha geração, que mesmo nos “anos de chumbo” os estudos sobre ecologia fazem parte do ensino básico e médio. Com tudo isto, a sociedade atual tem baixa aceitação a políticas que firam algumas das conquistas adquiridas.
As organizações civis, nos estados democráticos sempre se opõem a estas tentativas.
Vejam a reação de boa parte da sociedade civil americana, que mesmo se iniciando intimidada após as ações restritivas da era Bush de 11/09 em diante, acaba por eleger o seu sucessor.
Neste mesmo mês, no Brasil, há uma forte pressão, em especial de grupos ligados a economistas, ou mídia de economia, (Sérgio Bessermann,Carlos Sardenberg, Miriam Leitão – ouçam o post de 5/06/09 dia do meio ambiente, na CBN) contra medidas consideradas lesivas ao meio ambiente da MP 458, aprovada no senado.
Há um consenso geral entre os economistas que um desenvolvimento não sustentável, que afete a ecologia, em médio e longo prazo passa a ser economicamente inviável. Um bom exemplo disto é o crédito de carbono, e a futura taxação internacional sobre as emissões.
Há 50 anos, a sobrevivência dependia apenas da viabilidade financeira, atualmente é a sustentabilidade que dita a viabilidade, e portanto a sobrevivência.
Para ser sustentável, um empreendimento de considerar quatro pilares:
1) Viabilidade Financeira;
2) Socialmente Justa;
a. O cliente interno deve ser encantado. Não é admissível mais práticas como escravidão, exploração de trabalho infantil, diferenças sexistas...
3) Aceitação Cultural;
a. Práticas como “dumping”, super-faturamento, desvio de impostos, ataques às minorias, etc, são mal vistas pela sociedade de modo geral.
b. Práticas lesivas ao consumidor (vide o caso da Apple, quando o Steve Jobs derrubou em 1/3 o preço dos Iphones. Quem havia comprado recentemente mais caro reclamou, e foi “indenizado” em US$100,00 em produtos Apple – terá sido um erro ou uma jogada de marketing.... ou do limão ele fez a limonada???)
4) Ambientalmente responsável;

Junto às questões ambientais, e as sociais de modo geral, podemos pinçar nesta última uma que vem a tempos sendo colocada em segundo plano.
O Trabalho.
Este, que apesar de poder seu nome ser derivado de um instrumento de tortura (tripalium) , ele é parte integrante de nosso espírito. Trabalhamos não só pelo dinheiro, mas por aceitação social, prazer, desafio, saúde mental, etc...
Apesar de pouco comentado, muitos se sentem alienados e consideram seu trabalho sem sentido.
Paralelo a isto, o trabalho está se tornando um bem escasso, pois cada vez mais a automação, o realinhamento de mercados, a necessidade de conhecimento de novas tecnologias, o período curto de vida destas mesmas novas tecnologias, vem tornando cada vez mais insolúvel a questão de emprego.
A primeira vez que me deparei com este problema foi nos meados da década de 80, quando li os três livros do Alvin Toffler , bem como comecei a mexer com programação, em especial de micro-controladores. A automação parecia vir para substituir tudo.
Lembro-me que no início dos oitenta, ainda no Colégio Militar, meu grande professor de história Dilermando, havia comentado que estivera num médico, com o filho ainda pequeno. Ele disse que esperava que o filho fosse médico, ao que o médico replicou que ele deveria ser um “torneiro mecânico”, pois este “valia seu peso em ouro”...
Hoje um CAD-CAE (ou sei lá o atual nome) substitui inúmeros torneiros mecânicos, com maior precisão e segurança. Uns poucos operadores, com muito conhecimento supervisionam e interagem.
Alguns torneiros mecânicos se tornaram quase que artistas outros migraram para pequenas empresas que AINDA não podiam ainda adquirir tais CAE-CAD... Mas o fato é que como profissão, encolheu e se modificou de tal forma que quase se pode dizer que morreu. E no mesmo caminho foram os trocadores de ônibus, etc...
Aqui vale uma comparação. Enquanto a profissão de torneiro mecânico trazia uma paixão pelo trabalho, pessoalmente conheci muitos e sou sobrinho de um deles, “de mão cheia”, a profissão de trocador de ônibus não envolvia prazer algum. Esta última trazia em si um problema, como registravam os inúmeros casos de assalto, muitas vezes forjados.
As duas estavam em lados opostos de uma reta de valor, e notem que a de torneiro mecânico tinha um conhecimento agregado muito grande. Mesmo uma profissão de tal valor agregado pode se encolher, até quase morrer.
Quantas profissões de valor de hoje poderão vir a ser suprimidas no futuro?
Hoje já temos uma tele-medicina em crescimento, cirurgiões fazem operações remotas, utilizando robôs. Será que a profissão de cirurgião já não caminha na mesma senda que a de torneiro mecânico e um CAS (Computer Aided Surgery) irá substituí-los, ou reduzi-los a um mínimo necessário???
Num dos episódios de “Jornada nas Estrelas”, Nyota Uhura perde todos seus conhecimentos, “sugados” por uma sonda que havia sido “terráquea” e após ser encontrada por uma civilização, consertada e re-enviada a procura de seu criador, encontra a Enterprise (NCC-7101). Ao fim do episódio, aparece ela sendo “re-ensinada” em alta velocidade pelo computador da nave.... Abobrinha????
Bom, esta semana mostraram um robô professor no Japão... Vai rindo, vai...
O fato é que na falta de trabalho, seguindo a segunda lei de Newton, há o crescimento das mazelas de nossa sociedade. Teria o Hamas tantos seguidores se por acaso a Palestina fosse um estado com investimentos, empregos internos, etc?
Teria o Osama, tantos seguidores se por acaso os estados dos quais seus seguidores vêm não fossem estruturas feudais?
Aliás, acho que dá para comparar a Palestina a uma possível Europa sem um Plano Marshall.
Acho que vale aqui a velha frase de todas as nossas avós e avôs:
“Cabeça vazia, oficina do diabo”.
Não tenho, obviamente, a solução para este problema, mas com certeza a sobrevivência da humanidade (hoje com bombas atômicas distribuídas entre loucos e Estados pífios) passa pela solução deste “imbróglio”.
Corporações e a sustentabilidade:
Por estarem mais suscetíveis às forças do mercado, e estando este mais afeito às políticas social e ecologicamente corretas, ao contrário do que poderia parecer, são as corporações que estão mudando, e poderão vir a ser mesmo motor de uma mudança fundamental.
Esta mudança será mais das empresas e menos os governos, reconhecidamente mastodônticos e não raro corruptos. Um governo está submetido a uma tensão a cada 4/5 anos, já uma empresa está submetida a uma tensão constante de mercado. O mercado é reconhecidamente o mais rápido e sumário sistema “judiciário”, para bem ou mal.
Obvio que estamos falando das mesmas corporações como a IBM, que alugou e manteve seus computadores na Alemanha nazista para catalogar a Sloah, ou a Coca-Cola, que na mesma Alemanha nazista auferiu lucros com sua nova invenção, a Fanta...
Estas empresas, em especial as que atendem ao mercado de varejo, acabaram iniciando políticas, talvez, como uma estratégia de marketing. Mas o fato é que isto está se transformando, e creio que irá evoluir, pois caso contrário elas não serão socialmente aceitáveis, e acabarão tendo perdas em seus negócios.
Nesta semana se iniciou uma campanha na televisão, da Vale do Rio Doce, sobre já ter passado seu “footprint”, ou seja, já ter reflorestado mais que desmatou.
Durante o período de liberação do Timor Lorosa'e, houve uma campanha de boicote contra os produtos da Indonésia. Quem sabe um boicote contra produtos chineses fizessem eles re-pensar a sua atuação no leste da África??
O fato que o mercado acaba empurrando as empresas, e a moral, fica mais perto da ética...
Nesta mesma semana, tivemos os 20 anos do massacre da Praça da Paz Celestial, entre os programas “comemorativos” vi um de entrevistas com brasileiros que estava na China na época.
Uma das entrevistadas falou algo muito interessante, ao perguntarem aos intelectuais chineses, que eram a favor dos protestos, o porquê de não reagirem, a resposta foi que eles já haviam pagado um preço muito alto, e que era preferível, naquela hora, se infiltrar e mudar o sistema de dentro para fora. Creio que as pessoas que cresceram nos anos 70 e 80, com a consciência ecológica incutida nos programas de TV e documentários da época, que chegam agora às camadas executivas, e mesmo que guiados pelo pragmatismo corporativo e as forças do mercado, vêm ao longo do tempo mudando as corporações.
Creio que há 30 anos isto não seria discutido em uma escola de administração, como foi feito neste sábado, dia 6/05/2009, na aula de Ética Comercial, da FGV Campinas.
Posso estar sofrendo de um “ataque de Pollyanismo”, neste domingo frio em Campinas, mas:
You may say I'm a dreamer,but Im not the only one,I hope someday you'll join us,And the world will live as one
Imagine – John Lennon