sexta-feira, 3 de julho de 2009

Ética, Sustentabilidade, Uma boa aula III

Como disse, Toynbee é um vitoriano. Há que se dar um desconto em certas coisas, em especial na sua visão sobre assuntos sexuais... Mas não posso discordar de todo dele.
Interessante que outro dia, sentei e abri uma revista História Viva especificamente a Grandes Temas N 25 "Entre o Céu e o Inferno".
Na sua última página há um artigo de Reuven Faingold, “Noé, o “Homem Justo”.
Encontrei, neste artigo, o seguinte parágrafo:
“Os Homens dos dias de Noé se agrediam mutuamente, pois “encheu-se a Terra de violência”(Gen 6.11b). E, como se não bastasse a perversidade, a corrupção e a violência, aquela geração era também marcada pela incredulidade, pois não deu ouvidos à pregação de Noé, o “mensageiro da Justiça””
Toynbee me parece bem “bíblico” agora, um “apocalipicista”. Nada mais natural para um vitoriano.
Nossa Era Pós Moderna, que convenhamos, sob o ponto de vista de comportamento ainda não acabou, perdeu a certeza Iluminista e Positivista, e não encontrou nada ainda que tomasse o seu lugar. Perdemos nossas utopias, ou como o poeta dizia, “meus heróis morreram de overdose”.
Nossas crianças, criadas sem limites, agridem professores. Se sexualizam muito cedo, tem acesso a imagens que arrepiariam nossos pais, discutem sexo e relacionamento sem estarem entendendo exatamente o que é isto. E nós, os pais, achamos tudo isto muito normal. Eventualmente lembramos ao professor que pagamos a escola, e talvez aquela agressão tenha sido merecida.
Este ambiente, corrupto e permissivo (um depende do outro) somou-se a Era da Informação. A Era da Informação mostra o ambiente corrupto e permissivo, nos fazendo criticá-lo.
Duas forças:
· Uma negativa: A Informação correndo rápida vai levar facilidade na especulação, na entrada e posterior saída (realização de lucros, ou pânico) de recursos financeiros. Isto desaguou no empacotamento de “créditos podres” e sua distribuição pelo mundo nos fundos de derivativos, levou a atual crise econômica mundial. O cruzamento da Era Pós Moderna com a Era da Informação.
· Uma positiva: A Informação está aí, é facilmente distribuída.
- A China proíbe tudo, filtra tudo, controla tudo, mas as informações escapam, e as boçalidades do regime aparecem nos Blogs, nos e-mails.
- O Irã se revolta com a reeleição de Ahmadinejad, que expulsa observadores externos, mas é “traído” pelos filmes feitos em celulares e enviados como MMS, que mostram os conflitos, pelas mensagens via twitter (que atrasou uma manutenção para ficar no ar e dar este canal aos opositores).
- O RNA do virus H1N1 é decodificado nos EUA, graças a um misto de bioquimica e informática, e seu conteúdo disseminado aos centros de pesquisa mundial via internet. Uma mutação, identificada no Brasil é distribuída ao mundo, semans depois. Quase tão rápido quanto a disseminação dele mesmo.
- O Sarney diz que “o problema é do Senado”, e todos nós nos enojamos de imediato.
- O Greenpeace faz um estudo sobre desmatamento e pecuária, a informação roda o mundo, e o rebu tá feito. Quem sabe se agora os pecuaristas deixam de ser burros e passam a acreditar que a “Aceitação Cultural” é verdadeira.
A difusão da informação causa a indignação imediata, o excesso da informação “embucha o vivente”.
A era da informação muda a forma de trabalhar, o lugar de trabalhar e a hora de trabalhar. Agora não distinguimos mais o que é trabalho e o que não é. Lemos os sites de notícias nos ambientes de trabalho, entre uma página e outra de um relatório, na distância de um alt-tab. Atendemos um chefe, um cliente, um subordinado, durante nosso jantar romântico. Usamos o twitter para emitir nossa impressão sobre o prato do restaurante, enquanto ela vai ao toilette.
A informação vicia, e ela passa a “ser de todos”. Afinal de contas, ela está lá no 4shared, onde encontrei um pdf com um resumo das obras de Toynbee, e se bobear encontro o livro.
A era da informação acaba com a escravidão do artista, e pune as gravadoras. A facilidade de copiar e distribuir, a que as gravadoras chamam de pirataria, acaba com o que elas chamam de empregos... e outros de percentuais draconianos.
A mesma pirataria populariza o Windows, o Office, praticamente os fazendo padrão de mercado.
Algo típico da nossa Era da Informação.
Como não há uma barreira física, a virtual praticamente não se enxerga. Não temos mais fronteiras, como uma operadora de celular apregoa.

O novo trabalhador.
Chamado também de trabalhador do conhecimento. Este ser, diferente de seu Pai, sabe que não vai durar muito naquela função, naquele trabalho. Aliás, durante certo tempo, diga-se antes dos 40, ele apregoa aos 4 ventos que ele nem quer mesmo ficar “fazendo a mesma coisa”.
É interessante notar que a era industrial se forma em bases hierárquicas rígidas, vindas das atividades militares. São eles os melhores administradores desta época.
Pelas características de tempo e de forma de produção, é fundamental a imposição de “ordem” para haver “progresso”.
É importante notar que naquela época, logística era uma ciência/atividade essencialmente militar.
Mesmo entre, ou talvez mais ainda, nos países anglo-saxões onde o positivismo não colou muito, são em pensamentos embasados em idéias militares que as empresas são formadas.
Certa vez me lembro de ouvir de um Sargento que o soldado deveria ter mais medo dele do que do cavalo que ele tinha de montar.
É interessante observar como uma das indústrias mais “prazerosas” foi montada em bases da hierarquia militar. Observe como funciona um restaurante de “bom nível”.
A estrutura de “Chef”, “Sous-chef” e por aí vai, foi criada por Georges Auguste Escoffier, em cima das bases de Antoine Carême.
Escoffier foi militar, e lutou na Guerra Prussiana como “Chief” do exército Francês.

Como é preciso entender o Homem, em seu meio, creio que esta visão militarizada, que hoje encaramos com certo preconceito, foi a ideal e necessária para a época.

Mas hoje o soldado já não monta mais cavalos, e sim produtos de alta tecnologia. Há um novo soldado, uma nova mentalidade se formando nos Exércitos, e o novo trabalhador também é diferente.

Peter Drucker, papa da administração, definiu as competências do novo trabalhador, o trabalhador do conhecimento.
1) Competência: transforma informação em conhecimento.
2) Expertise: conhecimento do produto e do mercado. Sabe do que fala!
3) Empreendedorismo: encara os problemas com oportunidades, busca oportunidades, mesmo que seja como empregado.
4) Ética.
5) Liderança: Direção, foco no resultado, visão.
6) Paixão pelo trabalho.
7) Comunicação.
8) Trabalho em equipe. Fundamental, pois a quantidade de informação e conhecimentos não é mais gerenciada por apenas um “Leonardo Da Vince”.
9) Flexibilidade: O mundo VAI mudar, portanto há que se adaptar às novas realidades.
10) Criatividade: Cria algo novo
11) Inovação: Melhora o que já existe.
12) Humildade: habilidade de considerar os interesses dos outros, antes dos seus.
Se a estrutura de produção e conseqüentemente das empresas da era industrial nos alienava, e criava um ambiente esquizofrênico de “vida no trabalho” e “vida fora do trabalho”, a sociedade da informação chacoalha tudo isto e mistura.
Eu insiro um post no Twitter sobre meu café, mas acesso um link de um “paper sobre Long Term Evolution” deixado por meu amigo Eduardo segundos antes.
Enquanto a exigência anterior era de “cumpra o que te dei prá fazer”, alienando o trabalhador, a exigência agora é “Paixão pelo Trabalho”, envolvendo o novo trabalhador por inteiro.
Obviamente isto cria conflitos, pois nem a sociedade anterior morreu, nem a nova já está madura. Alguém pode me questionar se não estou “roubando” a empresa ao acessar o Twitter em meu horário de trabalho. Outros questionam a invasão da empresa na “minha casa”, pois o celular está lá, e tocará caso seja necessário.
O tempo levará isto a uma acomodação.
Creio que dos doze tópicos de Drucker, o principal, e que a tudo resume, é a “paixão pelo trabalho”!
Pois tendo esta paixão, o novo trabalhador é um incansável perseguidor da excelência, um talento auto-gerenciável e em auto e contínuo desenvolvimento.
A nova empresa
Esta ainda está em desenvolvimento, pois a nossa “era da informação” ainda está nascendo.
Segundo Lawrence Kohlberg, existem estágios da progressão da moralidade. E podemos ver neles os estágios de desenvolvimento da cultura organizacional de uma empresa.
O primeiro estágio é o pré-moral e se subdivide-se em duas fases, em ordem evolutiva:
1) Darwinismo social (baseado no EU, na minha sobrevivência)
2) Maquiavelismo (NÓS, manipulação para a sobrevivência. Não mata, mas...)
O segundo estágio é o Moral, que também tem dentro de si dois degraus em ordem evolutiva:
3) Conformidade (cria normas para impedir a desonestidade)
4) Lealdade para com a autoridade (alinhamento aos pensamentos do líder)
O terceiro estágio é o pós-moral, ou Ético, também com dois degraus:
5) Participação Democrática (tolerância para com a diversidade, cultura ética)
6) Integridade baseada nos princípios (justiça e direitos individuais)
Há alguns anos trabalhei com uma pessoa a quem admiro muito até hoje. Ele é religioso, externa isto, mas não impõe esta sua visão.
E por ter esta posição religiosa, inclusive diversa da minha posição que mais se assemelha a uma “angustiante dúvida”, seu comportamento baseado nos princípios básicos da ética levou à formação de uma equipe muito boa, e me propiciou uma das fases mais produtivas de minha carreira.
Isto me lembra que quando “eu” sou o líder, eu arrasto a minha organização para o degrau que eu estiver.

Foi uma boa e instigante Aula!
Fico agradecido por ela!

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