segunda-feira, 8 de junho de 2009

Ética, Sustentabilidade, Uma boa aula II

OK, o post de ontem parece ter sido bem otimista, Né?
Mas não foi de todo.
Vamos rever os pontos da sustentabilidade:
1) Viabilidade Financeira;
2) Socialmente Justa;
3) Aceitação Cultural;
4) Ambientalmente Responsável;
A viabilidade financeira pode ser obtida utilizando o comportamento ambientalmente responsável. Vejamos o caso dos créditos de carbono, já citado.
Com investimentos, muitas vezes usando soluções internas e de relativa simplicidade, algumas empresas estão diminuindo suas emissões de carbono. Com isto elas podem vender estes créditos para as poluidoras.
Isto significa caixa para as empresas que poluem menos, e conseqüentemente, incentivos a buscar menores emissões, via pesquisa. Isto pode significar também um ganho adicional por se apresentar como uma empresa socialmente e ambientalmente responsável.
Pragmaticamente:
Posso fazer papel de bonzinho e faturar em cima disto.
Posso fazer caixa, vendendo meus créditos
É um negócio, ao menos com tempo determinado!
Pode parecer uma carta branca para as poluidoras, mas temos duas pressões aqui:
1) Os valores de compra de carbono acabam se tornando um OPEX que em médio prazo pode se tornar pesado e inviabilizar o negócio, obrigando a fechá-lo ou adaptá-lo com soluções que emitam menos carbono. Por exemplo, aquelas desenvolvidas nas empresas que investiram nisto e ganharam com a venda dos créditos de carbono.
2) Existem volumes máximos de créditos de carbono que podem ser comprados por um país, o que leva a seu governo buscar forçar a diminuição das emissões por outros meios, desde financiamentos a soluções, até coerção finaceira.
Aqui você irá dizer:
“Ok, Guido... mas confiar que os governos vão cumprir as suas metas de emissão de carbono? Os EUA nem ratificaram o Protocolo de Kioto!!”
Bom, realmente o Bush não o ratificou, mas uma série de municípios, Estados e mesmo industrias americanas começaram a fazer investimentos voluntários para a diminuição das emissões. O que corrobora um pouco do meu ataque de “pollyanismo” de ontem. Aparentemente o mundo não é feito apenas por canalhas, e nem todos os capitalistas não querem ver que é necessário mudar...
E então veio o Obama, nossa esperança num mundo melhor, e recentemente impôs o que alguns chamariam de metas impossíveis para emissão de gases em carros. O “Cara” fixou para 2016 uma meta de 15 Km/litro.
Óbvio que aí tem o interesse de se livrar da dependência do petróleo do Oriente Médio, e do atoleiro político que aquilo significa.
É obvio também que com uma meta agressiva, ele busque inviabilizar os motores a explosão, ao menos nos carros maiores, evoluindo para elétricos/ células de hidrogênio.
E com isto se sai da “idade da pedra”, não porque elas acabaram...

Uma linha do tempo:
Nossa visão histórica é que estejamos na terceira globalização.
A primeira foi a “Pax Romana”, alcançada com o domínio do Mediterrâneo, inicia-se com Cesar Augusto em 29 AC e termina com Marco Aurélio em 180 DC. Com o domínio militar, e a engenharia, estradas cruzaram o “mundo”, que era tudo aquilo dentro dos “limes”. Estradas foram construídas, e com isto floresceu o comércio. A segurança e a possibilidade de usar os meios de transportes em cima de estradas estáveis foi o que possibilitou esta primeira Globalização.
A segunda foi a “Pax Britannica”, de 1815 (Trafalgar) até 1914 (Primeira Guerra Mundial). Neste período, a evolução dos meios de transporte, com o motor a vapor de 1780 faz com que a velocidade facilite o comercio, bem como as imigrações. Irlandeses, por conta da grande fome migram para os EUA, os italianos, por motivo não diferente vêm para “Fare l’America”. Chineses aportam no oeste Americano e finalizam a ligação leste-oeste da grande ferrovia Americana (Norte Americana). A imigração era fácil, nem passaportes existiam [Friedman, Thomas L. – o Lexus e a Oliveira]. É essencialmente a Era da industrialização.
A terceira se inicia com a queda do Muro, em 1989, e o desenvolvimento das telecomunicações, junto com a micro- informática, Internet (1969, mas popularizada nos anos 90) . Esta Globalização é caracterizada por conter duas Eras, a “Era Pós Moderna” e também a “Era da Informação”. É interessante notar que esta Era nasceu com nome... diferente das anteriores, que foram nomeadas por historiadores... Na Pós Modernidade até a História é rápida... Aliás, na Pós Modernidade, disseram que a história morreu.
Dizem que a Era Pós Moderna termina em 11/09/2001. Nós precisamos de datas para nos orientar, mas acho forçado dizer que foi com o 11 de setembro... Se ela acabou mesmo, acho melhor considerar a data da eleição do Obama, pois nada mais pós moderno que a Era Bush. E nada mais messiânico que Obama.
E quais as características desta época Pós Moderna?
· Hedonismo
· Consumismo
· Individualismo
· Quebra dos ideais Iluministas e Racionalistas.
É interessante que , Sir Arnold Toynbee, um escritor nascido no fim do período vitoriano, em seu Estudo sobre História compara as civilizações e nota um mesmo padrão de comportamentos em seus momentos finais... Algo muito próximo dos comportamentos da nossa Pós-modernidade.
· Sensação de Abandono
· Fatalismo Cínico
· Desaparece o Idealismo
· Sem crenças na moralidade
· Escapismo
· Distração e entretenimento.
· Abandono Moral e pessimismo
· Promiscuidade, não só sexual, mas como uma aceitação indiscriminada de tudo

domingo, 7 de junho de 2009

Ética, Sustentabilidade, Uma boa aula

Este post está aqui por duplo interesse, expor as minhas idéias, como sempre... E revisar a matéria da aula de Ética Comercial, magistralmente ministrada pela “Pro” Paulette Albéris Alves de Melo. Reconheço que descaradamente segui a sua aula para escrevê-lo.
Como ela mesma disse: “Nada escrito aqui é meu, são os “Best Sellers” que estão falando....” Obviamente posso concordar ou não... Eu concordo! Ao menos neste “espaço/tempo”.
Mão à obra...
O que é Ética?
Ela é um conjunto de fundamentos universais, é uma reflexão crítica sobre a moral.
E a Moral?
Moral é o conjunto de costumes aceitos num determinado tempo e espaço.
A Ética tem seus pilares, se preocupa com princípios universais, que são:
Dignidade Humana;
Respeito à vida
Respeito à Justiça;
Essencialmente a Ética nos faz perguntar:
Isto faz bem ou faz mal??
Mudanças:
Está se processando no mundo empresarial uma mudança que envolve a reavaliação dos pressupostos básicos da sociedade ocidental:
· Desenvolvimento;
· Negócios;
· Democracia.
Isto decorre da degradação ambiental que vem sendo denunciada desde os anos 60, bem como ao aumento do crime, terrorismo, fome crônica e consumo de drogas. Coisa que vieram na esteira da forma de pensar a economia e o desenvolvimento.
Desde os anos 60, diversos movimentos vêem se contrapondo a esta situação, questionando direitos civis, ambientais, etc...
Após Martim Luther King, Gandhi, os movimentos de libertação feminina, as lutas do Greenpeace, o envolvimento de Jacques-Yves Cousteau, não há espaço nas sociedades ocidentais para retrocessos.
Desde minha geração, que mesmo nos “anos de chumbo” os estudos sobre ecologia fazem parte do ensino básico e médio. Com tudo isto, a sociedade atual tem baixa aceitação a políticas que firam algumas das conquistas adquiridas.
As organizações civis, nos estados democráticos sempre se opõem a estas tentativas.
Vejam a reação de boa parte da sociedade civil americana, que mesmo se iniciando intimidada após as ações restritivas da era Bush de 11/09 em diante, acaba por eleger o seu sucessor.
Neste mesmo mês, no Brasil, há uma forte pressão, em especial de grupos ligados a economistas, ou mídia de economia, (Sérgio Bessermann,Carlos Sardenberg, Miriam Leitão – ouçam o post de 5/06/09 dia do meio ambiente, na CBN) contra medidas consideradas lesivas ao meio ambiente da MP 458, aprovada no senado.
Há um consenso geral entre os economistas que um desenvolvimento não sustentável, que afete a ecologia, em médio e longo prazo passa a ser economicamente inviável. Um bom exemplo disto é o crédito de carbono, e a futura taxação internacional sobre as emissões.
Há 50 anos, a sobrevivência dependia apenas da viabilidade financeira, atualmente é a sustentabilidade que dita a viabilidade, e portanto a sobrevivência.
Para ser sustentável, um empreendimento de considerar quatro pilares:
1) Viabilidade Financeira;
2) Socialmente Justa;
a. O cliente interno deve ser encantado. Não é admissível mais práticas como escravidão, exploração de trabalho infantil, diferenças sexistas...
3) Aceitação Cultural;
a. Práticas como “dumping”, super-faturamento, desvio de impostos, ataques às minorias, etc, são mal vistas pela sociedade de modo geral.
b. Práticas lesivas ao consumidor (vide o caso da Apple, quando o Steve Jobs derrubou em 1/3 o preço dos Iphones. Quem havia comprado recentemente mais caro reclamou, e foi “indenizado” em US$100,00 em produtos Apple – terá sido um erro ou uma jogada de marketing.... ou do limão ele fez a limonada???)
4) Ambientalmente responsável;

Junto às questões ambientais, e as sociais de modo geral, podemos pinçar nesta última uma que vem a tempos sendo colocada em segundo plano.
O Trabalho.
Este, que apesar de poder seu nome ser derivado de um instrumento de tortura (tripalium) , ele é parte integrante de nosso espírito. Trabalhamos não só pelo dinheiro, mas por aceitação social, prazer, desafio, saúde mental, etc...
Apesar de pouco comentado, muitos se sentem alienados e consideram seu trabalho sem sentido.
Paralelo a isto, o trabalho está se tornando um bem escasso, pois cada vez mais a automação, o realinhamento de mercados, a necessidade de conhecimento de novas tecnologias, o período curto de vida destas mesmas novas tecnologias, vem tornando cada vez mais insolúvel a questão de emprego.
A primeira vez que me deparei com este problema foi nos meados da década de 80, quando li os três livros do Alvin Toffler , bem como comecei a mexer com programação, em especial de micro-controladores. A automação parecia vir para substituir tudo.
Lembro-me que no início dos oitenta, ainda no Colégio Militar, meu grande professor de história Dilermando, havia comentado que estivera num médico, com o filho ainda pequeno. Ele disse que esperava que o filho fosse médico, ao que o médico replicou que ele deveria ser um “torneiro mecânico”, pois este “valia seu peso em ouro”...
Hoje um CAD-CAE (ou sei lá o atual nome) substitui inúmeros torneiros mecânicos, com maior precisão e segurança. Uns poucos operadores, com muito conhecimento supervisionam e interagem.
Alguns torneiros mecânicos se tornaram quase que artistas outros migraram para pequenas empresas que AINDA não podiam ainda adquirir tais CAE-CAD... Mas o fato é que como profissão, encolheu e se modificou de tal forma que quase se pode dizer que morreu. E no mesmo caminho foram os trocadores de ônibus, etc...
Aqui vale uma comparação. Enquanto a profissão de torneiro mecânico trazia uma paixão pelo trabalho, pessoalmente conheci muitos e sou sobrinho de um deles, “de mão cheia”, a profissão de trocador de ônibus não envolvia prazer algum. Esta última trazia em si um problema, como registravam os inúmeros casos de assalto, muitas vezes forjados.
As duas estavam em lados opostos de uma reta de valor, e notem que a de torneiro mecânico tinha um conhecimento agregado muito grande. Mesmo uma profissão de tal valor agregado pode se encolher, até quase morrer.
Quantas profissões de valor de hoje poderão vir a ser suprimidas no futuro?
Hoje já temos uma tele-medicina em crescimento, cirurgiões fazem operações remotas, utilizando robôs. Será que a profissão de cirurgião já não caminha na mesma senda que a de torneiro mecânico e um CAS (Computer Aided Surgery) irá substituí-los, ou reduzi-los a um mínimo necessário???
Num dos episódios de “Jornada nas Estrelas”, Nyota Uhura perde todos seus conhecimentos, “sugados” por uma sonda que havia sido “terráquea” e após ser encontrada por uma civilização, consertada e re-enviada a procura de seu criador, encontra a Enterprise (NCC-7101). Ao fim do episódio, aparece ela sendo “re-ensinada” em alta velocidade pelo computador da nave.... Abobrinha????
Bom, esta semana mostraram um robô professor no Japão... Vai rindo, vai...
O fato é que na falta de trabalho, seguindo a segunda lei de Newton, há o crescimento das mazelas de nossa sociedade. Teria o Hamas tantos seguidores se por acaso a Palestina fosse um estado com investimentos, empregos internos, etc?
Teria o Osama, tantos seguidores se por acaso os estados dos quais seus seguidores vêm não fossem estruturas feudais?
Aliás, acho que dá para comparar a Palestina a uma possível Europa sem um Plano Marshall.
Acho que vale aqui a velha frase de todas as nossas avós e avôs:
“Cabeça vazia, oficina do diabo”.
Não tenho, obviamente, a solução para este problema, mas com certeza a sobrevivência da humanidade (hoje com bombas atômicas distribuídas entre loucos e Estados pífios) passa pela solução deste “imbróglio”.
Corporações e a sustentabilidade:
Por estarem mais suscetíveis às forças do mercado, e estando este mais afeito às políticas social e ecologicamente corretas, ao contrário do que poderia parecer, são as corporações que estão mudando, e poderão vir a ser mesmo motor de uma mudança fundamental.
Esta mudança será mais das empresas e menos os governos, reconhecidamente mastodônticos e não raro corruptos. Um governo está submetido a uma tensão a cada 4/5 anos, já uma empresa está submetida a uma tensão constante de mercado. O mercado é reconhecidamente o mais rápido e sumário sistema “judiciário”, para bem ou mal.
Obvio que estamos falando das mesmas corporações como a IBM, que alugou e manteve seus computadores na Alemanha nazista para catalogar a Sloah, ou a Coca-Cola, que na mesma Alemanha nazista auferiu lucros com sua nova invenção, a Fanta...
Estas empresas, em especial as que atendem ao mercado de varejo, acabaram iniciando políticas, talvez, como uma estratégia de marketing. Mas o fato é que isto está se transformando, e creio que irá evoluir, pois caso contrário elas não serão socialmente aceitáveis, e acabarão tendo perdas em seus negócios.
Nesta semana se iniciou uma campanha na televisão, da Vale do Rio Doce, sobre já ter passado seu “footprint”, ou seja, já ter reflorestado mais que desmatou.
Durante o período de liberação do Timor Lorosa'e, houve uma campanha de boicote contra os produtos da Indonésia. Quem sabe um boicote contra produtos chineses fizessem eles re-pensar a sua atuação no leste da África??
O fato que o mercado acaba empurrando as empresas, e a moral, fica mais perto da ética...
Nesta mesma semana, tivemos os 20 anos do massacre da Praça da Paz Celestial, entre os programas “comemorativos” vi um de entrevistas com brasileiros que estava na China na época.
Uma das entrevistadas falou algo muito interessante, ao perguntarem aos intelectuais chineses, que eram a favor dos protestos, o porquê de não reagirem, a resposta foi que eles já haviam pagado um preço muito alto, e que era preferível, naquela hora, se infiltrar e mudar o sistema de dentro para fora. Creio que as pessoas que cresceram nos anos 70 e 80, com a consciência ecológica incutida nos programas de TV e documentários da época, que chegam agora às camadas executivas, e mesmo que guiados pelo pragmatismo corporativo e as forças do mercado, vêm ao longo do tempo mudando as corporações.
Creio que há 30 anos isto não seria discutido em uma escola de administração, como foi feito neste sábado, dia 6/05/2009, na aula de Ética Comercial, da FGV Campinas.
Posso estar sofrendo de um “ataque de Pollyanismo”, neste domingo frio em Campinas, mas:
You may say I'm a dreamer,but Im not the only one,I hope someday you'll join us,And the world will live as one
Imagine – John Lennon