domingo, 23 de junho de 2019

Do cinzel e da arte de usá-lo, da vida e do agradecimento!

O texto de hoje é resultado do reencontro com um querido Mestre!

Aconteceu nas comemorações dos 40 anos da entrada da turma no Colégio Militar. Em um dado momento da nossa conversa, ele tentou explicar o porquê de algumas vezes ter sido ríspido, situação que, pessoalmente, nunca percebi. 

Por conta do estado emotivo em que nos encontrávamos, na minha percepção do momento, pensei que as palavras não estavam significando exatamente o que ele queria dizer. E nem eu conseguia traduzir exatamente o que sentia e como queria agradecer pelo que me foi dado naqueles tempos.

Esta conversa ficou dentro da mente, usando uma metáfora de minha profissão: era um “deamon rodando em background”. 
Como expôr a ele o que havia significado todo o esforço que havia empreedido em nós.

Em tempos de ressignificação ideológica, é sempre bom voltar ao significado original das palavras. Com isto consegui colocar logicamente o que eu gostaria de ter falado.
A emoção, não seria possível expressar, salvo em uma palavra: gratidão
Profunda Gratidão!

Vamos às palavras e seus significados:

Podemos entender “Otium” e “Negotium”, este último o “não Otium”, como o tempo do Espírito e o tempo da Vida.

Negotium se refere ao que trabalhamos, nossa vida civil, nossa vida "útil" do dia a dia. A ida do monge ao mercado cuidar daquilo que é necessário à sobrevivência do monastério.

Otium, ócio em português, acabou perdendo o sentido espiritual e se revestiu apenas dos significados negativos. Agora, ocioso é aquilo ou alguém que não serve para nada!
Mas não, o Otium é o tempo do Espírito, do Aprendizado, do Crescimento e da Libertação. O tempo que o monge medita e aprende com o Mestre e seus coans.

Otium está ligado a Escola, que na sua origem, “skholé” em grego e “schola” em latim, também tem o significado de ócio no sentido de contemplação, de evasão (movimento para fora) e de ocupação durante o repouso físico, mas jamais repouso intelectual.

A escola faz parte do ciclo da educação do indivíduo, onde este sai do domínio da família e passa aos domínios da sociedade. Vai aprender coisas técnicas sim, mas vai principalmente aprender a arte da convivência, testar os músculos da empatia, conhecer os seus limites e desenvolver a tolerância. E aqui também encontrei mais um significado, o de educar. 

Educar vem de “ex ducere”, de conduzir para fora, trazer à tona.

Michelangelo dizia que para fazer a estátua, ele só tirava o que não precisava estar lá.. a estátua já estava lá... batia o cinzel e retirava o que não era Davi, a Madona ou mesmo Cristo.
Sócrates comparava a formação do indivíduo a um parto, e ao Mestre, como a parteira. A metáfora baseava-se na profissão da sua mãe.

Ou seja, na verdade, formar é tirar de dentro do indivíduo o que já existe. É fazer o parto desta consciência adormecida. Dar a luz à essência escondida, expôr o que estava fechado no escuro à realidade do mundo

Ensino, tem como origem “in signare”, ou seja, colocar sinais para que se possa encontrar o objetivo.
Ensinar é sinalizar o caminho para que o indivíduo por si só siga, aprenda com a caminhada.
Note que não é uma questão em impregnar, inserir, incutir, preencher. 
É uma questão de mostrar, retirar o inútil e propiciar o movimento para fora, para a superfície. É eliminar aquilo que não deveria estar lá.
Retirar as reações infantis, tais como a irresponsabilidade perante o mundo, a inércia, a preguiça ou a visão de ser o centro do universo. 
Ou seja, humanizar, retirar aquilo pertencente ao animal e ao material e fazer florescer o que é mais precioso ao humano, o que é do espírito.
É sempre retirar e não preencher. É encontrar o que somos.

Meu tempo magno de Otium se passou no Colégio Militar de Curitiba. Lá eu aprendi tudo aquilo que me seguiu na vida. Lá me ensinaram a forjar o meu espírito.
Este Mestre querido fez parte importantíssima deste meu tempo de Otium.
Na verdade, tudo começou com ele, pois foi no seu cursinho que se iniciou a formação a minha vontade, da noção de responsabilidade e da força que me levou ao CM e depois ao resto da vida.

Portanto, se alguma vez houve uma fala ríspida, esta não passou de um toque de cinzel. Se o volume da voz subiu, foi para mostrar bem o sinal ali posto. O Sinalizador nunca balança só a bandeira, ele também brada a plenos pulmões.

Se cheguei a algum lugar, foi pelos méritos do Sinalizador, do Mestre,  que me ajudou a extrair aquilo que ele sabia estar lá e que eu nem sabia que existia.

Ele, a golpes certeiros de cinzel, retirou os excessos para que surgisse o homem.
Se cheguei a algum lugar foi pelos mérito de suas bandeiras, que marcavam o caminho, sem obrigar os passos ou determiná-los.

E posto tudo o que me foi oferecido e possibilitado pela família, amigos, ambiente de vida, escola e pelos meus Mestres..... se não cheguei ao meu máximo, é devido apenas aos meus deméritos, à entrega à inércia, à indolência e à preguiça, por não ter me dedicado ou não ter tido a coragem de enfrentar algo.

No significado das palavras, busquei pintar o sentimento pelo meu querido professor de Português, que indicou importantes passos no caminho que trilhei.

Minha profunda gratidão, ao meu querido Cel. Menezes, que com sua maestria me fez ser melhor do que era, me mostrou um caminho a trilhar e me deixou com as ferramentas adequadas e a gana necessária para sempre melhorar.