quinta-feira, 15 de julho de 2010

O fenômeno do Cala Boca Galvão

Sou do tempo da central analógica, da fita prá carregar CDRs, das modulações analógicas, do vinil, da fita K7 e dos regimes de exceção.

Idos tempos li um "paper" que falava da proporção de TVs contra Telefones e sua relação com os regimes totalitários (esquerda ou direita).
Em democracias haviam mais telefones que televisões, em ditaduras mais televisões que telefones...
Óbvio, pois televisão é simplex, você recebe e ponto final.... Em terra de analfabetos amedrontados pelo chicote do "coroné", o simplex cumpre a sua função de difundir a ideologia do ditador!
Já telefone, é full duplex... você reage, troca idéias e acaba chegando à conclusão que o governo....
Notem como isto ocorreu em nosso país, compare os 11 anos desde a privatização da viúva Telebrás e os 22 anos da Constituição de 88.
Nos últimos 11 anos saltamos de uma espera quase infinita por um telefone fixo, para mais de um telefone móvel por habitante.
Telefone era uma dádiva que só te era dada a troca de muitos favores ao "guarda" (fosse ele governo ou mero funcionário da estatal).
Lembro de um canalha, vereador em Joinville, vir reclamar comigo que não havíamos avisado da instalação do TP, "que ele conseguira" para o bairro... O (de novo) canalha queria inaugurá-lo..
Com todas as mazelas que ainda temos, essencialmente amarradas a custos/impostos, avançamos em "warp 9" desde que em 1998 bateu-se o martelo....
Enquanto a telefonia e transmissão de dados era alçada no século XXI, ainda no século XX, a televisão e o rádio retrocederam no tempo para o mais feudal dos coronelismos...
Nos idos dos anos Sarney, as concessões de TVs e rádios foram distribuídas de forma "estranha" a Políticos... As concessões já vinham de anos assim, no período Sarney só mudou o volume.
Resultado, temos hoje uma indústria de Telecom madura e ativa, paralela à uma tele-difusão criada nos tempos de exceção   (dos tempos de Getúlio aos do Sarney).
Em uma operadora de telecom, de onde vem o abençoado dinheirinho para minhas contas, estamos acostumados às exigências do mercado, conseqüentemente às exigências do povo.
É Procom, a primeira coisa citada pelo cliente... a segunda é ANATEL.. descontando os palavrões, obviamente.
Já as tele-difusões, ainda centradas num mundo simplex, não tem este sentimento.
Suas métricas são ainda ante-diluvianas.. Os "IBOPEs", com seus universos restritos, pegam apenas os picos, perdendo as nuances.
Com isto as minorias, eventualmente "minorias chinesas", ficam soterradas pela prepotência das métricas empregadas.
Há anos venho ouvindo que a televisão interativa tá chegando.. na realidade ela chegou à revelia das difusoras que a temem... A interatividade chegou via Twitter..

A copa de 2010 não foi a da Dunga, da Jabulani, da Vuvuzela ou da Larissa Riquelme... a copa de 2010 foi do Twitter.
Há anos ouço o "Cala Boca Galvão", há anos muitos falam... em 2010, via Twitter os jornalistas, agora misturados à plebe rude e sofredora, foram golpeados com o que se falava desde sempre.

Não tenho nada contra o Galvão, creio que simplesmente ele é fruto deste meio "sem feedback", meio que produziu outra figura, que anda meio esquecida,... O Jô Soares e seu irritante estrelismo, que atropela o entrevistado, a entrevista, a notícia.
Galvão é fruto do tempo do "Jabá", do "Jabaculê", do "me paga que você aparece".
Não acuso aqui o Galvão de fazer o Jabaculê.
Não tenho provas, portanto não acuso!
Digo apenas que ele é fruto desta cultura.
Quem viu o intervalo do jogo, que fomos obrigados a aguentar a apologia da familia do Kaká, deve ter tido esta impressão.
Dá aquela sensação de que os demais não pagaram o "Jabá"... Dá aquele dejà vu ... lembrei dele falando do Rubinho, uma decepção pública, mas uma das estrelas constantemente apregoadas nos domingos de F1.
Rubinho teve seu nome  martelado ad nausean, mas o locutor não recebeu o feedback do ridículo que estava vivendo...
Já com o Kaká, na copa 2010, o Twitter mandou o recado. Alguns jornalistas notaram a situação forçada, e se manifestaram nos pios.

Não sou anti-Globo, acho o jornalismo deles muito bom. Uma emissora que tem Geneton, Jorge Pontual, a maravilhosa Ilze Scamparini, Miriam Leitão e Sardenberg, para citar apenas alguns, não pode ser classificada de maneira rasa como vem sendo.
A Globo é só mais uma televisão, que terá de se adequar  outros tempos... estes agora com a possibilidade de ter o feedback do usuário.
Ou morrer...

O Jorge Pontual, em um pio, classificou como bulling o "cala boca Galvão".
Apesar de minha admiração pela forma de entrevistar, pela sua postura geral, eu discordo.
Não foi bulling, foi a reação, semelhante à dos povos que se libertam de uma ditadura.

Ainda em tempo:
Pontual, quem esteja por trás do Milenium e Noblat são os mais preparados para este mundo interativo.
Mais de uma vez vi Pontual se retratar de um comentário, vi o Milenium  e  Noblat publicar pios de críticas duras e eventualmente alopradas.

"Minoria Chinesa" é uma expressão cá dos papos com papai... imagina uma minoria chinesa de 250 milhões de pessoas?? É uma minoria bem grande, né???
Imagina uma minoria brasileira de twitteiros.... faça seu paralelo...


Olha onde o Cala Boca Galvão foi parar!!!!

http://www.ted.com/talks/ethan_zuckerman.html